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Aqui você encontra alguns dos trabalhos do jornalista publicados na Imprensa rondoniense

8.7.07

Outras vítimas da violência no Acampamamento Flor do Amazonas

Eu estava deitado e ouvi uma barulheira de carro na estrada. Depois os carros pararam na porta do meu barraco e um monte de homem foi entrando quebrando tudo; eu saí na porta p’ra ver o que estava acontecendo e vi eles todos armados e encapuzados, e um deles me deu um coice nas caixas do peito que eu caí quase desmaiado de tanta dor. Fiquei dois dias sem poder dormi cuspindo rajadas de sangue” , relatou o sem-terra, Amauri de Souza, de 54 anos, conhecido por “Seu Padre” - uma das vítimas da violência no acampamento Flor do Amazonas, na madrugada do dia 29 de junho, quando aproximadamente 20 homens armados com armas de fogo invadiram e incendiaram os barracos dos acampados, deixando vários feridos.

O senhor Amauri de Souza é um dos pioneiros no acampamento, localizado na Fazenda Urupá, em Candeias do Jamari, e é um dos mais queridos na comunidade. Ganhou a alcunha de “Seu Padre” por seus companheiros militantes por causa de seu hábito de chamar as pessoas para ler a Bíblia. “Ficaram todos muito chocados com a frieza desses bandidos em não respeitarem nem o ‘Seu Padre’, uma pessoa já idosa! Será que eles não têm pai nem avô?! O coitado mora sozinho, não tem ninguém por ele, e não faz mal a ninguém!”, indignou-se Maria Aparecida.

CORAGEM DE UMA GUERREIRA


A sem-terra Shirley Francisco de Paula é considerada uma das mulheres mais arrojadas do acampamento. Ela inclusive foi uma das escolhidas pelos companheiros para compôr a comissão que os representa em reiniões e encontros com autoridades, para discutir questões de interesse da classe.

Shirley está gestante de cinco meses, motivo que deixa sua família preocupada por achar que ela precisaria se poupar de situações muito tensas, mas ela é contundente em sua objeção: “O pior que poderia me acontecer já aconteceu. Os bandidos não pouparam uma mulher grávida, agora quero também acompanhar a Justiça não poupando esses bandidos” – suas palavras fazem referência à ocasião do ataque, quando também foi vítima de agressão.

“Os pistoleiros colocaram o cabo do revolver sobre a minha cabeça, ameaçando disparar. Meu esposo ficou desesperado, e naquele momento eu não pensava em mim. Nunca tive medo de morrer. Eu só pensava no meu bebê e também tinha medo dele [o esposo] reagir e aqueles homens encapuzados disparar nele”, relatou Shirley.
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Relatos que ouví pessoalmente do senhor Amauri e da senhora Shieley, vítimas do ataque ao Acampamento Flor da Amazônia, em Rondônia, quando na madrugada do dia 29 de junho de 2007, aproximadamente 20 homens encapuzados e armados com armas de fogo invadiram e incendiaram os barracos dos acampados, deixando vários feridos.
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Lucas Tatui

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Esse relato é parte integrante de uma série de reportagens feita exclusivamente para o site de notícias Verdade Rondônia, tendo sido veiculado em outros sites do Estado. (com fotos de Linconh Regis)

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